Existe uma boa discussão a respeito de: "musica pode ser considerada um dom espiritual?"
Não pretendo dar a resposta aqui, mas sugiro que o músico se encaixa em qualquer habilidade espiritual prevista na Biblia, mas pode ser inserido especialmente nos dons de Efésios 4:11-12, especificamente como apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre.
Existem dois eventos do Antigo Testamento que sugerem essa versatilidade e flexibilidade.
Nos dias de Ezequias (II Cr.29 e 30)
Na restauração do culto ao Senhor promovida pelo rei Ezequias, os levitas (músicos e cantores) auxiliaram os sacerdotes nos sacrifícios, pois não havia sacerdotes suficientes. Os levitas assumiram a função sacerdotal, claro que dentro dos limites, isto é, fora do véu. Por isso, foram elogiados por Ezequias, pois “tinham entendimento no bom conhecimento do Senhor” (II Cr.30:22). Sacerdotes e levitas atuaram juntos, em harmonia. E, ao final, abençoaram o povo, e a sua oração “chegou até à santa habitação de Deus, aos céus”.
O músico cristão deve tirar daí uma grande lição: ele deve estar preparado para assumir cargos de liderança, ensino e pregação também. Deve apresentar-se como “obreiro que maneja bem a Palavra” (II Tim.2:15). O que temos notado é que a maioria dos músicos dedica-se apenas à música e negligencia a oração e o estudo da Bíblia. Por isso, quando se atreve a falar, ensinar, aconselhar ou pregar, é um desastre...
É impressionante a superficialidade espiritual de alguns músicos e cantores! Ora, a congregação não é insensível a isso, e quando alguém que não conhece e nem valoriza a Palavra de Deus começa a cantar, soa totalmente falso e o efeito da mensagem é anulado. Isso ocorre porque tal musico não tem prazer na Lei do Senhor, nem medita sobre ela dia e noite (Sal.1:2).
Durante a purificação do templo, os músicos e cantores (filhos de Asafe, Hemã e Jedutum) não ficaram de braços cruzados esperando os outros terminarem a obra. Os sacerdotes tomavam a imundícia (ídolos pagãos) que encontravam dentro do templo e colocavam-na no pátio, os levitas a levavam do pátio para o ribeiro de Cedrom – foi um grande esquema de mutirão (II Cr.29:12-19). Que bom seria se esse fosse o espírito de todos os obreiros do Senhor, inclusive dos músicos!
Após o período de emergência, no qual o improviso fez-se necessário, Ezequias organizou e regulamentou o trabalho no templo. Dividiu os turnos dos sacerdotes e dos levitas de acordo com a norma que fora estabelecida por Davi. O lema foi: cada um no seu ministério (II Cr.31:2). Desta experiência, aprendemos que o músico deve ter disponibilidade e preparo para atuar em outras áreas alem da musica.
Nos dias de Josias (II Cr. 34 e 35)
Josias era criança quando começou a reinar em Judá, tinha apenas oito anos de idade. Mas desde cedo demonstrou um profundo senso de religiosidade. Ele herdou das mãos de seu pai Amom um reino totalmente corrompido, idólatra e impenitente. Aos 26 anos, ele iniciou as obras de restauração do templo de Salomão. Organizou uma equipe para gerenciar a reparação do templo, e mais uma vez os levitas agiram com desprendimento e diligência.
Os músicos levitas deixaram os instrumentos e foram para as frentes de trabalho. Durante a construção, eles não ficaram tocando ou cantando enquanto os demais trabalhavam, mas auxiliando “em qualquer sorte de trabalho” (II Cr.34:12 e 13). Qual lição poderíamos extrair dessa experiência? A mesma que aprendemos com os levitas dos dias de Ezequias: o preparo e a disposição para servir em áreas diferentes na obra do Senhor.
Mas a organização voltou após a construção (II Cr.35). Os ministérios foram restabelecidos e cada um tomou a sua posição na casa de Deus.
“Não necessitavam de se desviar do seu serviço, pois seus irmãos, os levitas, preparavam o necessário para eles.” (v.15)
Na obra de Deus, se cada um assumir a sua posição dentro do seu ministério, ninguém precisará de desviar-se do seu serviço para cobrir a falta do outro. Se cada um “ficar na sua” fielmente, ninguém será sobrecarregado. Devemos reconhecer que a música só adquire importância quando as necessidades básicas da comunidade são satisfeitas, por isso o músico cristão deve dar prioridade à edificação basilar da igreja. E se para isso ele tiver que guardar seu instrumento ou calar momentaneamente o seu canto, que o faça sem protestos.
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