segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O repertório carismático: eles estão entre nós!

Andrae Crouch
Numa conversa sobre os rumos da adoração adventista, ouvi o seguinte: “Usar músicas que estejam relacionadas aos carismáticos mudará nosso culto e, consequentemente, nossa teologia”.

Para nós, adventistas, essa afirmação é incrível. Nosso hinário vem de fontes teológicas tão diversificadas que é um verdadeiro milagre não sermos ecumênicos! (risos). Se cantar as músicas que os carismáticos cantam nos torna carismáticos, o que diremos de nossos hinos católicos e reformados (calvinistas)? Como foi possível continuarmos adventistas até hoje cantando canções de antinomistas e imortalistas?

A adoração adventista sempre dialogou com movimentos vizinhos, usando o que é cabível em nosso ambiente teológico. Talvez os autores ignorem que nosso hinário inclui canções das raízes reavivalistas/pentecostais e do próprio movimento carismático recente. Estamos, desde o nascimento, envolvidos musicalmente com eles e isso nunca representou um grande problema. Uma rápida olhada em nosso hinário revela algumas coisas curiosas. Confira:

Phoebe Palmer, uma das mentoras do Movimento Holiness[i] escreveu vários hinos, e alguns deles ainda estão no Hinário Adventista do Sétimo Dia (HASD): “Vigiai Cristãos” (HASD 126) e “Agora posso ver” (HASD 516). Sua filha, Phoebe Palmer Knapp, é co-autora do famoso “Bendita Segurança” (HASD 240). Ela influenciou William Booth e seu Exército da Salvação.[ii]

Charles William Fry, autor de “Achei um grande amigo” (HASD 88) e “Vem, Jesus, nos despertar” (HASD 405), foi um dos fundadores do estilo musical do Exército da Salvação, utilizado no adventismo pioneiro pelos fanáticos da Carne Santa. Ballington Booth, autor de "Minha Cruz” (HASD 297), era filho de William Booth. Outros hinos do Exército da Salvação são “Louvores a meu Rei” (HASD 81) e “Doce Lar” (HASD 566). Além disso, Fanny Crosby, autora de vários hinos do Hinário Adventista, mantinha estreita ligação com o Exército da Salvação e com o movimento Holiness.[iii]

John Wimber (HASD 496) foi carismático, um dos fundadores das igrejas VineyardLanny Wolfe (HASD 578) sempre esteve ligado à United Pentecostal Church (não trinitariana), e atualmente é diretor de música de uma igreja pentecostal não-denominacional.

Laurie Klein compôs “Eu te amo, ó Deus” (HASD 579), um dos hinos do movimento carismático popularizados por Jack Hayford. Hayford (HASD 73) é pastor pentecostal e foi presidente da Igreja do Evangelho Quadrangular de 2004 a 2009.

Andrae Crouch (HASD 249) é pentecostal da Igreja de Deus em Cristo, diretamente ligada ao movimento pentecostal da rua Azuza. Jimmy Owens (HASD 587) é um dos pioneiros da música cristã contemporânea e do movimento de Louvor e Adoração. Outras canções popularizadas nos cultos pentecostais/carismáticos (Como “Suave Espírito” [HASD 158], de Doris Akers[iv]) e contemporâneos (como “Em tuas mãos” [HASD 480], de Diane Ball) também fazem parte de nosso repertório.

Além disso, se fôssemos falar também do repertório "contemporâneo" em nosso hinário, a lista aumentaria exponencialmente. Quase todos os pais da música cristã contemporânea estão em nosso hinário: Ralph Carmichael, Kurt Kaiser, Bill e Gloria Gaither, John W. Peterson, Don Wyrtzen e outros. Sem perceber, já realizamos nossos cultos acompanhados de muita gente ligada ao repertório contemporâneo e carismático.

Na verdade, existem vários outros hinos ligados aos movimentos Holiness e pentecostal no Hinário Adventista. Cantamos esse repertório há mais de um século! Historicamente, a IASD nunca esteve longe da “ameaça” pentecostal. No entanto, desde sempre conseguimos reter o que é bom dos nossos vizinhos.[v]

Nosso repertório de hinos também está presente em outros estilos de culto. Até o culto pentecostal clássico acontece ao som de hinos. Como escreveu Don Williams, “os hinos, sem dúvida, podem também ser usados na adoração contemporânea, na combinada e na carismática.”[vi]

Assim, o medo do carismatismo na música contemporânea não se justifica se continuarmos a fazer o que sempre fizemos: seleção criteriosa. Creio duas coisas deveriam acontecer para contextualizar a adoração de maneira segura:

1) Incentivarmos a criação de nosso próprio repertório de louvor congregacional contemporâneo. Estamos engatinhando nesse sentido, mas já temos um bom material inicial para selecionar.

2) Continuarmos sendo biblicamente criteriosos na seleção de músicas de louvor do meio evangélico. O isolamento não é necessário, como mostra nossa história.

Isaac Malheiros Meira

[i] Leia sobre a relação do movimento Holiness com as manifestações extáticas aqui: http://www.adoracaoadventista.com/2011/12/culto-da-carne-santa-uma-copia-de.html
[ii] William Booth, fundador do Exército da Salvação, foi especialmente influenciado pelo ministério de Phoebe Palmer a partir dos anos 1840. Palmer ensinava um “caminho mais curto” para receber a inteira santificação e enfatizava a importância da “experiência” em detrimento da precisão teológica. Ver
Phoebe Palmer, “The Shorter Way”, em Voices From the Heart (Grand Rapids, MI.: Eerdmans Press, 1987), 156-158.
[iii] Rodney L. Reed, “Worship, Relevance and the Preferencial Option for the Poor in the Holiness Movement, 1880-1910”, em Wesleyan Theological Journal, 98.
[iv] Essa canção, por sua mensagem centrada no Espírito, rapidamente se tornou um dos hinos preferidos dos pentecostais e carismáticos. É denunciada por tradicionalistas como uma das culpadas da invasão pentecostal nas igrejas históricas. Ver, por exemplo: http://www.pbministries.org/Theology/Laurence%20Justice/embrace_pentecostalism.htm
[v] Um bom exemplo disso são as reuniões campais, uma prática reavivamentista que frequentemente se degenerava em fanatismo, mas que foram uma bênção para o adventismo. Apesar das campais terem uma origem questionável, serem quase sempre acompanhadas de excessos emocionais, e serem regularmente realizadas pelo movimento Holiness e por outros grupos não alinhados à teologia adventista, os adventistas não deixaram de usar esse método. Ellen White claramente endossou a realização de campais, mesmo estando ciente do fanatismo que rondava as campais Holiness e do risco de excessos no adventismo. Para ler mais sobre isso: http://www.adoracaoadventista.com/2011/12/culto-da-carne-santa-uma-copia-de.html
[vi] Don Williams, “Resposta da adoração carismática”, em Adoração ou Show?, 91.

domingo, 22 de dezembro de 2013

A conexão da música com a desconexão da Palavra

Li um artigo escrito por um amigo,[i] e para poupar espaço em sua página, vou tecer alguns comentários por aqui. Ele escreveu sobre a relação entre a música contemporânea de adoração, o culto e a pregação.  Para o autor, a atual música, que busca uma “conexão” com Deus, marca um período de desconexão da Palavra. Concordo com a questão da desconexão da Palavra, mas discordo do papel atribuído à música nesse processo. Eis minhas razões:

A música contemporânea e a mudança na liturgia
É fácil perceber que a desconexão com a Palavra ocorre com ou sem música “conectante”.
O liberalismo teológico nasceu em igrejas litúrgicas, tradicionais, sem música “conectante”. A neo-ortodoxia, nasceu em igrejas reformadas, tradicionais, históricas, sem música “conectante”. Ambos os movimentos esvaziaram a Bíblia de autoridade, desconectaram pessoas da Bíblia do modo mais perigoso.


Veja que curioso: muitos segmentos católicos, luteranos e reformados se renderam ao liberalismo teológico e à neo-ortodoxia. Mas a liturgia nessas denominações se mantém geralmente intocada. Manter a liturgia não impediu a mudança na teologia da revelação, e consequentemente, no púlpito. O estilo musical do culto continua o mesmo, mas a teologia se desconectou da Palavra.

A história da IASD mostra que mudar a liturgia e o estilo musical não é necessariamente problema. E a história das denominações em geral mostra que manter a liturgia e o estilo musical não garante a boa teologia. Em nossa própria história podemos encontrar períodos sérios de desconexão da Palavra, e isso nada teve a ver com música.[ii] Para uma análise dessa mudanças pela Dra. Lilliane Doukhan, clique aqui

A música contemporânea e os sermões fracos
Segundo o autor, as canções contemporâneas mudaram a pregação: os sermões são rasos, e o auditório não se interessa por sermões mais “profundos”. Mas a impaciência dos jovens com os sermões não é culpa da música. A mudança no perfil do adorador tem várias causas. É uma mudança no perfil de uma geração. Jogar isso na conta da música contemporânea de adoração é equivocado.[iii]

Além disso, em geral, nossos pregadores não seguem as orientações inspiradas sobre a arte de pregar. Sermões longos, áridos, complicados, não são apenas inadequados à geração Y, mas estão na contramão do que Ellen White recomenda.[iv]

Concordo que há uma crise no púlpito adventista, mas não foi a música quem provocou, e não é a música que vai consertar isso.


A música contemporânea e o “analfabetismo bíblico”
Sempre achei que descrever os adventistas como “o povo da Bíblia” é, no mínimo, um exagero triunfalista. Existem centenas de denominações que reivindicam esse título da mesma forma como o fazemos. Sempre tivemos nossas dificuldades com relação ao estudo da Bíblia. O analfabetismo bíblico não é fenômeno recente no adventismo. Ellen White já alertava sobre isso nos dias dela.[v] Basta verificar nossa história e constatar o grande número de heresias e movimentos dissidentes com ideias estapafúrdias que levaram centenas de adventistas à apostasia.

Jogar o analfabetismo bíblico na conta da música contemporânea e do púlpito também é um erro (além de uma inversão na relação causa-efeito). Não se deve esperar que a igreja seja alimentada biblicamente apenas pelo púlpito ou pela música. Se o povo não estuda a Bíblia por si, não há sermão ou louvor que resolva isso!

O analfabetismo bíblico é raiz dessa árvore, não fruto. É causa, não conseqüência do problema. É a própria doença, e não apenas um sintoma dela.

A música contemporânea e a religião da “sensação”
Suponhamos que a emoção seja, de fato, um problema na adoração.[vi] De acordo com o autor, a “postura de adoração orientada por um perfil carismático chegou a nós por meio do worship.” E tal postura “dispensa a profundidade do estudo da Bíblia como fundamento da adoração, dando espaço a experiências pessoais e legitimando o sentimento como meio de conecção [sic] com o sagrado.”

O problema desse argumento é que o desprezo à Bíblia e à revelação objetiva historicamente não são culpa da música contemporânea e nem do carismatismo. Existem tantos outros movimentos teológicos que valorizam a experiência e não são carismáticos e nem tem nada a ver com o “worship”.

A valorização da experiência pessoal vem de longe, no mínimo desde os pietistas, passando pelos metodistas, os reavivalistas, o movimento “Holiness”, os campmeetings, etc. O adventismo nasceu em berço metodista, imerso numa cultura de campmeetings, “Holiness” e “revivals”. Nosso hinário traz hinos de Zinzendorf e Neumeister, que eram pietistas, da religião do coração, experiencial, subjetiva.

Continuamos cantando hinos metodistas, do Exército da Salvação, “Holiness” e dos reavivamentos que levaram o pentecostalismo. Continuamos cantando hinos dos campmeetings reavivalistas (mesmo sabendo que eles caíam no chão, pulavam, choravam). Você acha que devemos parar de cantar hinos de Andrae Crouch (pentecostal)? E de John Wimber, fundador da Vineyard? E os negro spirituals? É tanto hino de gente que curtia as sensações, que podemos dizer que o hinário é “sensacional”.

Ou seja: estamos há séculos ligados, através dos hinos, à religião das sensações, e nosso hinário mostra isso. Por isso, é errado jogar a culpa da religião sensacional no “worship”, na música contemporânea. Aí estão as igrejas pentecostais tradicionais para mostrar que os hinos também pavimentam o caminho das “sensações”.[vii]


O carismatismo não é uma novidade, fruto do “worship”. Na realidade, o adventismo já nasceu enfrentando ondas de fanatismo carismático. O fanatismo de Indiana aconteceu ao som de hinos que cantamos até hoje. Basta verificar o “Garden of Spices”[viii] (hinário usado na campal de Indiana). Novamente, um bom repertório não foi suficiente para evitar distorções teológicas.[ix]

“Boa” música e má teologia
Se evitássemos a música contemporânea e o “worship”, estaríamos seguros, certo? Existe uma relação direta entre música tradicional e teologia correta, certo? Errado.

Pense:  qual era a característica musical do culto romano durante os 1260 anos de supremacia? Era música “boa”, mas péssima teologia! Veja a descrição do culto romano no Grande Conflito, p. 566.

Qual era a característica musical dos cultos do escolasticismo protestante? Excelente música (pelo menos no luteranismo), culto digno e sóbrio, mas a teologia era caracterizada pelo dogmatismo, péssima hermenêutica e submissão da Bíblia às pressuposições humanas.

Qual era a característica musical da pregação legalista que dominou o adventismo antes de 1888? Tradicional, ortodoxa, mas a teologia era equivocada.

Qual era a música que acompanhava os movimentos fanáticos dos dias de Ellen White? Diversificada. Havia fanatismo e heresia com música, sem música, ao piano, com banda ruidosa, sem banda ruidosa, etc. Ex.: o caso dos Mackin, a campal de Indiana[x] e outros. Não existe uma fórmula musical para a heresia. O fanatismo é diversificado, e se manifesta “em diferentes maneiras”.[xi]


Sejamos bíblicos
Apesar de minha discordância, penso que o pastor Douglas chama atenção para um problema real: o esvaziamento da autoridade da Bíblia como princípio regulador do culto. Meu apelo é que voltemos à Bíblia nesse assunto. Já há muita história, psicologia, sociologia, antropologia, musicologia envolvida nessas discussões. Muito do que se supõe ser matéria bíblica é apenas opinião costurada com textos-prova arrancados a fórceps da Bíblia. Devemos nos voltar à Bíblia, deixar que ela fale naturalmente, e por ela medir nosso culto, nossa liturgia, nossa música, nossa adoração e nosso púlpito.


Isaac Malheiros Meira

[ii] Ver por exemplo, George Knight, A mensagem de 1888 (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009). A ortodoxia adventista, o apego à tradição, nesse período levou a uma desconexão da Palavra.
[iii] O autor escreveu um livro sobre a “geração Y” e sabe que essa impaciência, desatenção e dificuldade de se concentrar da atual geração não se deve à música de adoração.
[v] “O temor do Senhor está-se extinguindo no espírito de nossos jovens, devido à sua negligência de estudar a Bíblia.” Ellen White, Conselho aos Pais, professores e estudantes, p. 89.
[vi] Não penso que seja. Basta uma olhada nos salmos e seus profundos tons emocionais para perceber que a Bíblia não vê os sentimentos humanos como prejudiciais na adoração. Os salmos vão além, e expressam emoções que eu nunca vi em músicas de worship, como o Sl 137:9. Se usássemos os critérios de alguns críticos da música contemporânea, os Salmos seriam classificados como “existencialistas” e “emocionalistas”.
[vii] A Congregação Cristã do Brasil, pentecostal, é notável por valorizar os hinos tradicionais e a música instrumental de orquestra. As cruzadas de curas e milagres de Benny Hinn, famoso pregador pentecostal, ocorrem geralmente ao som de música evangélica tradicional, com órgão e coral.
[viii] Para uma análise do conteúdo do “Garden of Spices”, ver http://www.adoracaoadventista.com/2013/03/o-problema-nao-foi-o-repertorio.html
[xi] Sobre isso, leia “Fanatismo em diferentes maneiras” em http://www.adoracaoadventista.com/2011/12/fanatismo-em-diferentes-maneiras.html

terça-feira, 9 de julho de 2013

Provando mais do que pretendia

George Knight
Trad.: Isaac Malheiros
Surpreendente como possa parecer, algumas vezes nós provamos mais do que queríamos se estendemos nossa metodologia às suas conclusões lógicas.
O caso das joias
Por exemplo, alguns argumentam que uma das melhores razões para o cristão moderno não usar joias é que nós estamos atualmente vivendo no antitípico Dia da Expiação.
No Velho Testamento, o Dia da Expiação era o dia mais solene no calendário judaico. Era um dia de auto-exame, julgamento e purificação. E não era apenas um dia para os sacerdotes oferecerem sacrifícios especiais. Todo indivíduo tinha que se envolver se não seriam “cortados”. Repetidamente os israelitas foram instruídos a se “afligirem” nesse dia tão solene (Lv 16:29, 30; 23:27, 32; Nm 29:7). “Porque toda a alma, que naquele mesmo dia se não afligir, será extirpada do seu povo.” (Lv 23:29). Era um dia realmente sério.
 “O mandamento para ‘se afligir,’” escreve Gordon Werham, “sublinhou a necessidade de cada indivíduo examinar a si mesmo e arrepender-se de seus pecados.”[1] Outros tem argumentado que parte dessa aflição seria a humildade e simplicidade no vestuário. Assim, aqueles que estivessem realmente examinando o coração teriam abandonado as joias.
Acho que essa é uma posição interessante. Mas me parece ser mais simples provar que ninguém deveria ter relações sexuais no antitípico Dia da Expiação. Afinal, Lv 15:16-18 diz que aqueles que tivessem relações sexuais estariam ritualmente impuros até o pôr-do-sol. O que implica que eles estariam desqualificados para exercerem as atividades religiosas do Dia da Expiação anual.
Quando essa interpretação é estendida ao dia antitípico da Expiação, se torna ainda mais fascinante. Uma coisa é não ter sexo num dia santo; outra coisa é não ter sexo durante todo o período antitípico. Claro que quem se inclinar a tal aplicação também poderia encontrar justificação escatológica para essa posição. Afinal, Ap 14:1-5 não ensina que os 144 mil são “virgens”? Enquanto alguns possam pular de alegria sobre tal interpretação, outros provavelmente a veriam como mais "aflição" do que eles poderiam suportar.
E claro, é ainda mais fácil provar pela lógica acima que todo o trabalho está proibido no dia antitípico da Expiação (Lv 23:28, 30, 31; Nm 29:7). Mas enquanto isso é mais facilmente provado, a mente mediana não vê nas consequências nada tão interessante para contemplar como no argumento do não-sexo.
É importante apontar claramente que eu não estou argumentando a favor ou contra o uso de joias, o sexo ou o trabalho. Meu objetivo é o uso correto das Escrituras. Especificamente, estou apontando que algumas vezes nós inadvertidamente provamos mais do que queremos através do uso da lógica relacionada à Bíblia. É importante também notar que não estou duvidando da sinceridade de quem usa tais argumentos. A questão é mais de metodologia do que de sinceridade. Podem existir excelentes argumentos contra o uso de joias (bem como contra o sexo, e o trabalho) na Bíblia, mas me parece que o argumento relacionado ao dia antitípico da Expiação não é um deles. Tipologia (bem como as parábolas), enquanto válida para muitas inferências, tem limitações.
O caso da ordenação de mulheres
Outra ilustração de um argumento que prova mais do que pretende tem a ver com a ordenação de mulheres. A Igreja Adventista (como várias outras denominações) tem visto uma grande quantidade de argumentações de ambos os lados nesse assunto nos últimos anos.
Um orador recentemente baseou seu argumento contra a  ordenação feminina no fato de que a igreja Adventista é uma igreja da Bíblia, e, portanto, “a Palavra de Deus deve ser nosso foco”. Dada essa sólida fundação, ele apropriadamente citou Is 8:20: “À lei e ao testemunho: se eles não falarem de acordo com essa palavra jamais verão a alva.”
A seguir, ele guiou seus ouvintes à “mensagem atemporal” de 1 Timóteo 2, enfatizando especialmente o verso 12: “Não permito que a mulher tenha autoridade sobre o homem” (Ele parafraseou o texto). Isso foi seguido por um tríplice argumento em favor da liderança masculina.
Esse orador estava certo de que a advertência de Paulo não tem nada a ver com cultura. Ao contrário, o conselho foi estabelecido como um imperativo moral universal, e transgredi-lo é nada menos que o “descarrilamento da locomotiva da missão da igreja”.
A real questão , ele afirmou, era que nós confiamos nos escritores da Bíblia. Nesse ponto o argumento se tornou mais intenso e mais interessante de uma perspectiva hermenêutica. “Agora, a questão é”, disse ele à sua audiência, “como nós interpretamos a Bíblia?” Sua resposta foi que a Bíblia não precisa de interpretação. Ou, como ele mesmo disse: "A Palavra de Deus é infalível; aceitá-lo como ele lê. Temos muitos conselhos sobre o perigo de modificar as instruções de Deus .... O que precisamos, como adventistas do sétimo dia, amigos, é a submissão à Palavra de Deus, não reinterpretação" (itálicos acrescentados).
Posteriormente, ele citou Ellen White, dizendo que "Deus terá um povo na terra que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas". Ele concluiu seu estudo, em parte, ao afirmar que ele era contra a ordenação de mulheres ao ministério, porque "viola a doutrina das Sagradas Escrituras, por não aceitar as Escrituras como claramente a lemos" (itálicos supridos).
O que foi realmente provado?
Não há dúvida de que ele estava falando a honesta convicção do seu coração. Mas eu fiquei atônito quando li e assisti sua apresentação enérgica. Por um motivo: 1 Timóteo 2:12 não diz absolutamente nada sobre ordenação. Então novamente, eu mal pude acreditar que a apresentação viera de um Adventista do Sétimo Dia; talvez um calvinista conservador, mas não um adventista. Afinal de contas os adventistas tem o fenômeno Ellen White.  Fui atingido em cheio no rosto com o fato de que se alguém aceitasse suas pressuposições, o que na verdade havia sido demonstrado era que Ellen White era uma falsa profetisa.
Roger Coon ilustra bem o que estou dizendo quando ele relata sua experiência com um evangelista itinerante que veio à Napa, Califórnia, e colocou um grande anúncio no jornal prometendo destruir as doutrinas da Igreja Adventista numa apresentação na quinta-feira á noite e demolir sua profetisa na semana seguinte. Coon assistiu às duas sessões. Na segunda, o evangelista “provou” que a Igreja Adventista era falsa porque um de seus pioneiros fundadores era uma mulher que desafiou os ensinos do apóstolo Paulo proibindo mulheres de falarem nas igrejas cristãs.
Adventistas, por razões óbvias, sempre resistem a essa interpretação. A igreja tradicionalmente tem justificado o ministério público de Ellen White por perceber que o conselho sobre mulheres permanecerem em silêncio na igreja em 1 Tm 2:11, 12 estava enraizado no costume de uma época e de um lugar, e não era para ser aplicado grosseiramente agora que as circunstâncias mudaram. Portanto, como diz o Comentário Bíblico Adventista: “Por causa da ausência geral de direitos femininos privados e públicos à época, Paulo sentiu que era conveniente dar este conselho para a Igreja. Qualquer violação grave de costumes sociais aceitos traz opróbrio sobre a igreja .... Nos dias de Paulo, o costume exigia que as mulheres se colocassem em segundo plano.”[2]
Vamos voltar ao nosso orador adventista e examinar com mais cuidado o uso que ele fez de 1 Timóteo 2. A primeira coisa a se notar é que ele leu apenas o pedaço do texto que era adequado ao seu propósito. As palavras que estão imediatamente antes do trecho que ele citou são: “A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição” (1 Tm 2:11, NVI). E as palavras que estão imediatamente após a “mensagem atemporal” que ele leu apenas reforça esse sentimento. Sua paráfrase também deixou de fora as palavras "ensinar ou" uma vez que seu único foco era sobre a restrição de lidar com a "autoridade". Permitam-me citar o versículo 12 na íntegra: "Eu não permito que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio" (NVI).
Agora, é óbvio que se alguém está testando tudo no sentido mais estrito pelas palavras lei e o testemunho, e se não está "modificando" as instruções de Deus (ou as reinterpretando), mas simplesmente aceitando as Escrituras como "claramente se lê", então é uma conclusão necessária que Ellen G. White deve ser uma falsa profetisa do tipo mais grave.
Para dizer o mínimo, ela raramente permaneceu em silêncio na igreja. Na verdade, ela ensinava com autoridade para homens e mulheres em todos os lugares onde esteve. Ela foi a principal transgressora se de fato 1 Tm 2:11, 12 está expressando uma "mensagem atemporal" que não precisa de interpretação.
Vamos encarar os fatos: após alguém examinar todos os argumentos sobre liderança e /ou o significado de Eva pecar antes de Adão, e após ser exposto a todos os ótimos argumentos vindos do grego e hebraico bíblicos, e da erudição alemã e francesa, o fato é que a Bíblia diz em bom português que mulher não pode ensinar, que elas devem ficar em silêncio.
É claro que, se a hermenêutica permite levar em conta o tempo e lugar em que a Bíblia foi escrita, então o problema não é tão sério. Mas o nosso amigo não se permitiu nenhuma saída. Assim, ele está preso ao fato de que, quando testada por uma "leitura simples" da Bíblia, Ellen White é uma falsa profetisa. Ele provou mais do que pretendia.
Por outro lado, se alguém admite que a parte sobre o silêncio precisa ser um pouco “modificada” (deveria eu ser ousado o suficiente e dizer "interpretada" ou "contextualizada" ao tempo e lugar?), então deve permitir que tal licença se estenda ao verso inteiro. Mas isso, é claro, levaria a um enfraquecimento de todo o argumento. Embora isso possa parecer assustador para alguns, a única alternativa é ficar empacado com uma falsa profetisa.
Os bons pontos do meu argumento parecem ter sido desconsiderados por dois livros recentemente publicados que seguem a mesma linha geral de argumentação, como discutido acima. Ambos veem 1 Timóteo 2:11-14, junto com a passagem paralela de 1 Coríntios 14:34, 35, como sendo textos cruciais no processo contra a ordenação (mesmo que nenhuma dessas passagens mencionem o tema), ambos veem a questão como sendo de autoridade bíblica, e ambos tomam a posição de que a Bíblia pode ser fielmente lida apenas como ela é.
Dito isto, no entanto, eles imediatamente começam a modificar e interpretar a parte sobre o silêncio das mulheres na igreja. Como um dos livros aponta, "a questão aqui não é amordaçar as mulheres em silêncio." O outro livro afirma que a passagem de 1 Coríntios certamente não significa que as mulheres têm que ficar em silêncio na igreja, pois isso “estaria em contradição com outro ensinamento paulino". "A conclusão é que a restrição" à fala das mulheres na igreja "deve ser em referência ao ensinamento autoritativo, que é uma parte do trabalho pastoral, a posição de liderança espiritual e autoridade sobre a congregação."
Ora, essa é uma interpretação interessante, mas ela não tira Ellen White do anzol do falso profeta. Afinal de contas, ela falou bastante com autoridade até mesmo para os pastores líderes, tanto na igreja como fora. Na verdade, ela encontrou-se com bastante frequência em conflito público com os ministros masculinos, e argumentou com muita autoridade, apesar da advertência de Paulo.
É um ponto interessante que por alguns anos Ellen White recebeu credenciais ministeriais e suas credenciais eram de ministro ordenado, ainda que ela nunca tenha sido tecnicamente ordenada pela imposição de mãos. Ela foi (e é) o ministro mais "autoritativo" que a Igreja Adventista do Sétimo Dia já teve. Se alguém no adventismo - homem ou mulher - já falou com autoridade, foi Ellen White.
Quando o segundo volume trata de explicar o significado da afirmação sobre mulheres ficando em silêncio em 1 Tm 2:11-14, ele chega ao ápice da modificação e interpretação adaptada. "O que é proibido para as mulheres", nosso autor nos diz: "é ensinar nos cultos como parte do ofício eclesiástico de pastor, que envolve o exercício da autoridade espiritual. Mulheres que são convidadas a participar dos cultos, seja orando ou exortando, o fazem com base na autoridade delegada pelo pastor homem que ocupa o cargo eclesiástico e espiritual, cuja autoridade é derivada de Cristo "(itálico no original).
É muita coisa para interpretar, é muita coisa para apenas ler em simples palavras na Bíblia.
Mesmo essa reconstrução maciça do texto não tira Ellen White do anzol. Ela exercia autoridade espiritual em público e particularmente, e seus ouvintes eram de ambos os sexos. Claro, as pessoas podem aprimorar suas definições de modo a fazer Paulo expor suas conclusões, mas fazer isso dificilmente é uma leitura das "palavras simples" da Bíblia. E tal procedimento certamente falha ao não seguir o seu próprio método hermenêutico às suas conclusões lógicas.
Alguns pensamentos finais
Antes de sair do estimulante assunto da ordenação feminina, talvez eu deva compartilhar mais um argumento que prova mais do que pretendia. Um dia, em minha aula de formação pastoral, um de meus alunos veio com a “resposta infalível” à questão da ordenação feminina. “Leia o Antigo Testamento,” ele disse. “Todo sacerdote ordenado era homem.”
 “É verdade,” eu respondi, “mas você provará muito mais se mantiver seu argumento. Se você seguir sua lógica, terá que concluir que muito poucos, incluindo você, são biblicamente aceitáveis para a ordenação, pois o Antigo Testamento aprovou apenas a ordenação de homens orientais. E mesmo assim, não é qualquer oriental. Eles tinham que ser hebreus, e também da linhagem de Aarão, da família levítica.”
 “Bem,” disse alguém que queria estender o argumento, “veja Jesus. Ele escolheu apenas discípulos homens.” É verdade, mas isso pode ser discutido, pois ele escolheu como discípulos apenas judeus que não eram da Diáspora.
 “Mas,” disse outro, “Paulo era um homem da Diáspora que foi uma espécie de discípulo, mesmo não sendo um dos doze.”
Sim, mas alguns dos discípulos homens originais que não eram da Diáspora podem apontar que o problema começou com Paulo. Afinal, veja os problemas que ele levantou quando começou a aplicar o evangelho no contexto dos gentios do primeiro século. Ele quase dividiu a igreja do Novo Testamento.
"Mas", outro sugere, "é por isso que a experiência de Paulo está na Bíblia. Toda contextualização justificável deve cessar em Paulo. Afinal de contas, você não pode ir a extremos nesse negócio de aplicar a Bíblia aos novos tempos e lugares.”
E os argumentos podem continuar. E eles irão.
Concluindo, quero dizer novamente que o assunto do meu artigo não são as joias, o sexo, o trabalho ou a ordenação de mulheres.
Pelo contrário, é uma advertência para que examinemos todas as consequências do nosso método teológico para que não sejam maiores do que pretendíamos, é um apelo para sermos fiéis à nossa própria lógica e à totalidade dos textos selecionados para demonstrar o nosso ponto. Assim, joias e ordenação meramente fornecem ilustrações contemporâneas que fazem um alerta para o uso racional das Escrituras. Afinal, há uma grande diferença entre usar a Bíblia para provar um ponto e desenvolver um argumento bíblico sadio. Uma "visão elevada" da Bíblia exige uma hermenêutica sadia.



[1] Gordon J. Werham, The Book of Leviticus, The New International Commentary on the Old Testament, (Grand Rapids: Eerdmans. 1979), p. 237.
[2] Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1957, 1980), vol. 7, pp. 295, 296.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Contra o relativismo



por Luiz Felipe Pondé


O que você faria se estivesse a ponto de assistir a um ritual de antropofagia? Interromperia (sem risco para você)? Ou deixaria acontecer em nome do relativismo cultural (essa ideia que afirma que cada um é cada um, que as culturas devem ser respeitadas em sua individualidade e que não podemos compará-las)?

No primeiro caso, você seria um horroroso descendente dos "jesuítas"; no segundo você seria um relativista chique. Sempre suspeitei que esse papo relativista fosse blablablá. Funciona bem em aula de antropologia, em bares, em parques temáticos e lojas de curiosidades. É evidente que "jesuítas" de todos os tipos fizeram horrores nas Américas. Todo adulto bem educado sabe que é feio condenar cultos à lua ou à chuva. Mas há algo no relativismo cultural que me soa conversa fiada: o relativismo cultural morre na praia quando você é obrigado a conviver com o Outro. E o "Outro" nem sempre é legal.

Se você aceita a antropofagia em nome do respeito à "cultura", aceita implicitamente a ideia de que o valor da vida humana seja subordinado à "cultura". A vida humana não tem valor em si. Todo estudante de antropologia sabe recitar esse credo. Quando confrontado com dilemas como esse, o relativista diz que se trata de uma situação meramente hipotética (hoje não existe mais antropofagia). Mas a verdade é que quando o relativista diz que a antropofagia é hoje quase nula, e, portanto, esse dilema não tem "validade científica", está literalmente correndo do pau porque "alguém" acabou com a antropofagia, não? Por que a antropofagia "acabou"?

Algumas hipóteses: 1) os antropófagos foram mortos por gripes ou em batalhas; 2) foram convertidos pelos horrorosos "jesuítas" e seus descendentes; 3) descobriram formas mais fáceis de comer e rituais que deixam as pessoas (isto é, os Outros) menos irritadas e com menos nojo. É importante conhecer o "lugar" da antropofagia nas religiões dos canibais, mas isso é apenas um "dado" antropológico. Uma descrição de hábitos (ruins). Mas o relativista tem que correr do pau mesmo, porque seu credo funciona bem apenas nas conversas de salão. A vida é sempre pior do que as festas. Relativistas culturais são, no fundo, puritanos disfarçados, gostam de "aquários humanos".

Os seres humanos são culturalmente promíscuos, e "a cultura" sem promiscuidade (trocas, misturas, confusões) só existe nos livros. Use internet, televisão, celulares, aviões e estradas, faça sexo ou guerra, e o papo do relativismo cultural vira piada. Na realidade, as pessoas lançam mão do argumento relativista somente quando lhes interessa defender a "tribo" com a qual ganha dinheiro e fama. O problema com o debate sobre os índios (ou qualquer outra cultura considerada "coitada") é a mitologia que ela provoca. Se, de um lado, alguns falaram dos índios (erradamente) como inferiores, bárbaros ou inúteis, por outro lado, os que "defendem" os índios normalmente caem no mito oposto: eles são legais e só querem viver "sua cultura", e eles não são "capitalistas" como nós, e blablablá. Índios gostam de poder como todo mundo, vide os índios "conscientes de seus direitos" devorando computadores, celulares e internet no Fórum Social, em Belém -ou ficam na idade da pedra mesmo e precisam que o Estado os defenda do mundo.

As culturas mais bem-sucedidas são predadoras e seduzem as mais fracas (ser mais bem-sucedida não implica ser legal). Por que levar medicina científica (invenção dos "opressores") para as aldeias? Não seria contaminação "cultural"? Vamos ou não brincar de "curandeiros"? Que tal abraçar árvores? Se você é católico e quer ser fiel aos seus princípios, você é um retrógrado; se você quer viver no meio da selva (com direitos adquiridos porque você é de uma cultura "coitada"), você é apenas uma tribo com direito a integridade cultural. O conceito de cultura é quase um fetiche do mercado das ciências humanas. Não que não existam culturas, mas o conceito na sua inércia preguiçosa só funciona no laboratório morto da sala de aula ou do museu. A vida se dá de forma muito mais violenta, se misturando, se devorando.

Nada disso é "contra" os índios, mas sim contra o relativismo como ética festiva. O oposto dele não é o obscurantismo, mas a dinâmica da vida real. O relativismo é um (velho) problema filosófico e um "dado" antropológico. Um drama, e não uma solução.


Extraído do Paulopes

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Nota aos fãs de Bacchiocchi

Amigos,

Ao expor as fraquezas e falhas na obra “O cristão e a música rock”, não estou fazendo campanha anti-Bacchiocchi. Pelo contrário. Ele já me foi muito útil em estudos e debates sobre vários assuntos (aqui, por exemplo), e considero sua obra “Imortalidade ou ressurreição” excelente. Melhor, inclusive, que a do sábado.

Mas estou seguindo exatamente as orientações de Bacchiocchi. Criticado por discordar de Ellen White em alguns assuntos, ele respondeu:

“É isso que significa ser um adventista comprometido? Seriam os adventistas cristãos de mente fechada que aceitam cegamente os seus ensinamentos tradicionais sem nunca testar a sua solidez bíblica? Se isso fosse verdade, então aqueles que nos acusam de sermos uma seita não estariam longe da verdade.” http://www.biblicalperspectives.com/endtimeissues/eti_87.html

Se Bacchiocchi pode discordar de Ellen White, por que eu não poderia discordar de Bacchiocchi?
Como ele conseguiu essa aura de intocabilidade entre nós? Se num próximo artigo sobre música eu vos mostrar que ele está biblicamente equivocado, vão continuar a me acusar de estar “atacando a igreja”, “promovendo apostasia”, “denegrindo a imagem”, etc?

Calma, amigos. Bacchiocchi não é "a igreja". Ele não é mais nem menos que ninguém. Foi um grande teólogo, mas não confundam “doutrina” com “opinião de Bacchiocchi”. E se ele lançou um livro internacionalmente conhecido, não é por causa de um bloguezinho como o meu que sua imagem será arranhada.

Minhas “acusações” não são acusações: são fatos, informação pública, e eu aponto as fontes. Eu argumento, mostro, comprovo. Que mal tem isso? Bacchiocchi discordou a vida inteira de muita gente, inclusive de posições tradicionais da teologia adventista (não quero causar mais escândalos, então descubra por você mesmo). Como um grande questionador que foi, ele ficaria decepcionado com o comportamente de seus admiradores.

Quem se sentiu ofendido com isso, desculpe-me: falta mais “adventismo” nessa flacidez espiritual que você chama de religião. É uma situação semelhante aquela: avisam o marido que sua esposa o está traindo, e o marido-traído fica magoado com quem contou, não com a esposa que o traiu.

Encerro com Ellen White:

“É importante que, ao defender as doutrinas que consideramos artigos fundamentais da fé, nunca nos permitamos o emprego de argumentos que não sejam inteiramente retos. Eles podem fazer calar um adversário, mas não honram a verdade. Devemos apresentar argumentos legítimos, que não somente façam silenciar os oponentes mas que suportem a mais acurada e perscrutadora investigação" (Evangelismo, p.166).

Meditem nisso, e parem de seguir a trilha do bezerro.

Basta de choro. Voltemos às argumentações.

Garlock e a tricotomia-dualista na música

Você já ouviu (ou leu) que, na música, a melodia afeta o espírito, a harmonia afeta a mente, e o ritmo afeta o corpo? Eu já. Várias vezes. E fui atrás da fonte de tão maravilhosa informação. Encontrei algumas, mas a mais proeminente foi Frank Garlock (coincidentemente, perdoem-me os fãs dele, mais uma das fontes de Bacchiocchi).

Frank Garlock é um autor de livros e palestrante conhecido nos Estados Unidos por combater fervorosamente a música cristã contemporânea. Numa análise parcial de seus vídeos e do livro “Music in the balance” não encontramos nada novo. Ele repete conceitos que escritores como Bob Larson, David Noebel e o próprio Garlock já vinham insistentemente escrevendo desde os anos 60.
Mas em Garlock encontramos um conceito que tem se alastrado na música adventista: a tricotomia. [1]

O conceito tricotômico na música
Em seus livros, Garlock sustenta a idéia de que a natureza triúna da música (melodia, harmonia e ritmo) corresponde à natureza do homem (espírito, alma ou mente, e corpo). Para ele, nossa natureza básica é o corpo, que é afetada pela qualidade básica da música: o ritmo. A harmonia afeta a nossa mente. E a parte mais nobre da música, a melodia, afeta o nosso espírito. [2]

Essa analogia é usada para condenar certos tipos de músicas rítmicas, já que o ritmo alimentaria a natureza carnal. O problema é que não há apoio bíblico para essa analogia. Ela parece fazer sentido e soa bem “espiritual”, mas, como veremos, flerta com a heresia gnóstica e não tem nenhuma credencial bíblica.

Nós adventistas não cremos na tricotomia. A nossa visão bíblica sobre o homem é monista (ou holística, integral), na qual o ser humano é uma unidade indivisível. Mas, esquecendo-se disso, Bacchiocchi repete o conceito de Garlock assim:

“Em seu livro Music in the Balance, Frank Garlock e Kurt Woetzel apresentam um conceito que era novo para mim, mas que achei ser digno de consideração. Eles explicam graficamente que:

MELODIA responde ao ESPÍRITO
HARMONIA responde à MENTE
RITMO responde ao CORPO” [3]

Em seus livros, sermões e palestras em vídeo, Garlock usa a palavra “mente” e a palavra “alma” relacionadas à harmonia. Na sua analogia, alma e mente parecem representar a mesma coisa.[4] Certamente o significado de "espírito, mente/alma e corpo" para Garlock não é o mesmo sentido para Bacchiocchi. Pelo menos não deveria ser.

Bacchiocchi completa: “A característica que define a boa música é um equilíbrio entre seus três elementos básicos: melodia, harmonia e ritmo.”[5] Mas logo após defender esse “equilíbrio”, ele se contradiz colocando os elementos da tricotomia numa escala de prioridades, como veremos a seguir.

O dualismo na música
Simplificando, o dualismo é uma idéia pagã e antibíblica que vê a natureza humana como material e espiritual. O material é o corpo, temporário, essencialmente mau. O espiritual é a alma ou a mente, que é eterna e boa.[6]

Veja a escala de importância na visão tricotômica do ser humano de Garlock:

1. Espírito – a parte mais importante do homem.
2 – Alma/Mente – a próxima em importância
3. Corpo – o menos importante[7]

Isso é um flerte com o dualismo: o corpo é “menos” e o espírito é “mais”.
E Bacchiocchi vai atrás de Garlock nessa idéia: “a ordem das prioridades da vida cristã com o espiritual em primeiro lugar, o mental em segundo e o físico em terceiro, deveria ser refletida na própria música.(...) A ordem apropriada entre os aspectos espirituais, mentais e físicos de nossa vida cristã deveria refletir-se na música cristã.”[8]

Eu até entendo o que ele quer dizer, mas a sua justificativa é inacreditável:

“A parte da música à qual o espírito responde é a melodia. Isto é sugerido por Efésios 5:18-19, onde Paulo admoesta os crentes: “mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando”.[9]

Não entendi. Esse texto não diz que a melodia é a parte da música que afeta o espírito. Talvez ele esteja sendo influenciado por Garlock, que prefere a tradução da King James, onde o grego ‘psallo’ é traduzido “fazendo melodias”. Mas a Bíblia relaciona 'psallo' à mente também (1 Co 14:15). E não há porque preferir a tradução “fazendo melodia” em Ef 5:19.

Sobre ‘psallo’ em Ef 5:19, o Comentário Bíblico Adventista diz: “'tocar um instrumento', 'cantar hinos'. Esta palavra pode, portanto, referir-se à música instrumental ou ao canto em geral. Como já se falou de “cânticos”, alguns pensam que psallo se refere ao primeiro; mas outros sustentam que no NT esta palavra significa apenas ‘cantar’.”

Além disso, o conceito é musicalmente falho: fazer melodia requer ritmo.

E ele continua:
“A parte da música à qual nossa mente responde é a harmonia. Isto acontece porque a harmonia é a parte intelectual da música. Praticamente qualquer pessoa pode produzir uma melodia, mas é necessário um extenso treinamento musical para escrever e compreender os vários acordes (partes). Uma harmonia que soe bem só pode ser arranjada por um músico treinado. A harmonia, como a palavra sugere, harmoniza a melodia e o ritmo.[10]

Aqui não há citação bíblica, mas em Garlock nós encontramos o texto de 2 Co 10:5 que também não diz que a harmonia é a parte de música que afeta a mente. São afirmações soltas, que surgem ‘ex-nihilo’, sem fundamentação bíblica alguma!

E aqui também há uma falha musical: existem ritmos complexos e melodias que requerem intenso treinamento musical, assim como existem harmonias simplórias. Existem pessoas que conseguem fazer harmonia mas não conseguem reproduzir um ditado rítmico intrincado. A coisa não é “preto-no-branco” como querem Garlock e Bacchiocchi.

E finalmente, o ritmo:
“A parte da música à qual o corpo responde é o ritmo. A palavra ritmo deriva da palavra grega reo, que quer dizer “fluir” ou “pulsar” (João 7:38). O ritmo é o pulso da música, que encontra uma correspondência analógica com o pulso cardíaco.”[11]

O nosso corpo responde a muitos outros elementos musicais. O próprio Bacchiocchi cita vários exemplos de uso da música em terapias, anestesia e tratamentos em geral. Certamente isso tudo não acontece só com ritmo, mas com a música como um todo.

E fechando o raciocínio, novamente aparece a escala de prioridades de Garlock: “O cristão com uma ordem e equilíbrio escriturísticos em sua vida enfatiza em primeiro lugar o espiritual (Mateus 6:33), o intelectual ou emocional em segundo (II Coríntios. 10:5) e por último o físico (Romanos 13:14).”[12]

Nós adventistas cremos numa visão holística (ou monista) do ser humano. Ensinamos uma reforma de saúde justamente por crermos que cuidar do corpo à luz da Palavra também é “buscar primeiro o reino de Deus” (Mt 6:33). O corpo físico, na teologia adventista, tem muita importância, pois o ser humano é uma unidade indivisível. Há aqui uma confusão de termos. Os aspectos espirituais tem sim precedência sobre os terrenos, temporais. Mas o nosso corpo não deve ser classificado nessa sub-categoria, “menos”, desprezível.

Se Bacchiocchi não queria defender o dualismo para combater o ritmo, ele foi, no mínimo, confuso. E para refutar Bacchiocchi, ninguém melhor que... ele mesmo.

Bacchiocchi contra Bacchiocchi
Como aconteceu no caso do Salmo 150 , aqui também existe um caso de “hermenêutica por conveniência”. Bacchiocchi apresentou essa visão tricotômica/dualista do ser humano em “O cristão e a música rock”, mas estranhamente ele não defende essa visão do ser humano em sua excelente obra “Imortalidade ou ressurreição”. Veja:

“Tanto o corpo quanto a alma, a carne e o espírito são uma unidade indivisível”[13]
“A ênfase bíblica é sobre a unidade do corpo, alma e espírito, cada um sendo parte de um organismo indivisível”.[14]
“... o ato de criação material deste mundo, inclusive a do corpo humano, é ‘muito bom’ (Gn 1:31). Não há dualismo nem contradição entre o material e o espiritual, o corpo e a alma, a carne e o espírito, porque fazem todos parte da boa criação de Deus”.[15]

Essa sim é a visão adventista. Bacchiocchi denuncia: “... o ponto de vista dualístico clássico tem fomentado o cultivo da alma à parte do corpo...”[16]. E descreve a dedicação primária à vida contemplativa (vida espiritual) e o desligamento da vida secular como algo contrário à perspectiva bíblica, um dos resultados do dualismo.[17]

Uau! Que mudança de opinião! Nem parece o mesmo escritor... em qual dos dois autores devemos acreditar? Se somos unidade indivisível, não faz sentido a teoria tricotômica/dualista, pois somos afetados igualmente.

Ao defender o conceito holístico-bíblico da natureza humana, Bacchiocchi nos desafia a “considerar positivamente tanto os aspectos físicos quanto espirituais da existência”, pois “a maneira como tratamos nosso corpo reflete a condição espiritual de nossas almas”, e “a poluição física é também uma poluição espiritual.”[18] Corretamente, ele diz que “um bom programa de educação física deve ser considerado tão importante quanto os programas acadêmicos e religioso”.[19]

Ellen White concorda com essa segunda visão de Bacchiocchi, ao defender o “desenvolvimento harmônico de todas as faculdades”[20], e ao descrever a educação como “desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais”[21]. Isso claramente contradiz a ordem das prioridades cristãs de Bacchiocchi em sua obra sobre música: “espiritual em primeiro lugar, o mental em segundo e o físico em terceiro”. Na vida do cristão tudo está relacionado ao que chamamos de “espiritual”.[22]

O físico não é mau
Referindo-se ao corpo, Garlock diz que “o ritmo… alimenta a satisfação própria, a parte egoísta do homem”[23]. Além de ser uma afirmação solta, sem fundamentação, ela traz uma idéia dualista, mais influenciada pelo gnosticismo (o mal reside no físico) que pelo cristianismo bíblico.

E ao afirmar que o ritmo é o que causa respostas físicas, Garlock diz uma verdade parcial: outros aspectos da música também provocam reações físicas.

Além disso, a Bíblia não sugere que reações corporais sejam inerentemente erradas na adoração. De fato, a Bíblia relata positivamente as posturas, gestos e movimentos corporais da adoração hebraica (prostrar-se com o rosto em terra, ajoelhar-se, levantar as mãos, danças, etc). Obviamente há aqui questões culturais envolvidas.

Ao abordar ritmos que ele mesmo aprova, Garlock diz “não há nada errado com a música que tem um efeito físico...”, ao falar dos efeitos da marcha. Isso é um exemplo dessa argumentação inconsistente, incoerente, que afirma uma coisa aqui e então afirma o contrário algumas páginas depois.

Contrariando o seu mentor, Bacchiocchi afirma em “Imortalidade e ressurreição” que o “corpo físico não é mau”[24] e que “o Antigo Testamento não distingue entre os órgãos físicos e espirituais.”[25] Um mesmo autor, duas obras, dois pensamentos conflitantes.

O dualismo de Daniel Spencer
Esse argumento dualístico encontrou eco na igreja adventista em vários artigos e palestras. Ele está presente também na palestra sobre música da série “A Guerra dos sentidos”, de Daniel Spencer.

Spencer admite que usou Garlock como uma das fontes para as suas palestras (clique na imagem ao lado) e vai um passo além do raciocínio de Bacchiocchi e diz:

“Eu estou lhe apresentado aqui um critério: Nós somos espírito, mente e corpo; a música é melodia, harmonia e ritmo. A melodia é o que estimula nossa parte espiritual, ela deve dominar...”

“O ritmo deve ser suprimido, pq ‘Deus é espírito, e importa que os que O adoram, O adorem em espírito e verdade’; ou seja, tudo no lóbulo frontal, e não na carne, que combate contra o espírito”. Para ouvir, clique abaixo:


Essa é basicamente uma antiga heresia gnóstica dualista. Note que Spencer diz que somos espírito, mente e corpo, que Deus é espírito e é com essa ferramenta que devemos adorá-lO, e não na carne (corpo) - a qual “combate contra o espírito.”

Para os gnósticos e muitos filósofos gregos pagãos dualistas, o espírito é bom e vive aprisionado pelo corpo, que é mau. “No dualismo platônico, a matéria é a fonte e origem do mal”[26], diz o próprio Bacchiocchi. E completa: “A identificação do mal com a matéria tem levado a uma visão pessimista do corpo e da existência física. É lamentável que esse ponto de vista pessimista do corpo tenha influenciado tão fortemente o pensamento e prática cristãos”[27].

Ao fazer coro a Garlock e Bacchiocchi, e relacionar a carne pecaminosa ao corpo, Spencer está dizendo que o corpo deve ser suprimido, pois milita contra o mundo espiritual. Isso soa como cristianismo monástico, medieval.

Porém, na Bíblia, essa carne que milita contra o espírito não é o mesmo que corpo literal, matéria. A “natureza carnal” não é constituída de células em si, mas de tendências pecaminosas. A solução para o pecado não é uma vacina. O mundo físico não é mau, como diziam os gnósticos, pois Deus também o criou, criou tanto nosso espírito quanto nosso corpo e a ambos chamou de bons.

Em versos como esse, a Bíblia apresenta a “carne” como sinônimo de “natureza carnal”, pecaminosa, e não como sinônimo de corpo literal, parte física, como colocou Spencer.

Logo, essa tricotomia humana e divina mostra-se sem aplicação ao que ele quer expor. Ele pretende usar o critério escriturístico, mas o faz distorcendo as Escrituras para que se adequem aos seus critérios.

Utilizando o conceito tricotômico racionalmente
Garlock e Bacchiocchi ensinam que “a característica que define a boa música é um equilíbrio entre seus três elementos básicos: melodia, harmonia e ritmo.” Ou seja, se alguém fizer o solo de um hino a cappella, isso não resultará em “boa música” por faltar a harmonia. Aqui está o problema: a Bíblia diz que os levitas cantavam em “uníssono” (2 Cr 5:13)[28]. Resultado: na avaliação de Bacchiocchi, a música dos levitas não era “boa música” por ser desequilibrada. Um absurdo com o qual nem ele concordaria.

E há erros lógicos nesse conceito. Após dizer que a boa música é a que traz um equilíbrio entre melodia, harmonia e ritmo, Bacchiocchi parte para a acusação: “A música rock inverte esta ordem, fazendo do ritmo o elemento dominante, depois a harmonia e por último a melodia.” O erro está em: se são “equilibrados”, esses elementos estão em pé de igualdade e não existe “ordem” que possa ser invertida.

Ao descrever a dança de Davi no segundo transporte da Arca da Aliança, Ellen White diz que ele acompanhava "em sua alegria o ritmo do cântico" (Patriarcas e Profetas, p. 706). Assim, pelo critério triconômico, essa música rítmica provavelmente era desquilibrada, ruim, carnal. No entanto, Bacchiocchi ensina que isso aconteceu depois de uma suposta reforma musical divinamente inspirada que teria banido os tambores, a dança e modificado a música sacra! É contraditório.

A posição adventista

O ‘Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia’, no capítulo “A doutrina do homem”, após descrever o dualismo, alerta que “alguns dividem a natureza humana em três: corpo, alma e espírito. Para os nossos objetivos, ambas as posturas podem ser abrangidas pelo dualismo.”[29]

E logo após, o ‘Tratado de Teologia’ expõe a visão biblicamente correta: o monismo bíblico, o ser humano como uma unidade, onde “todas as expressões da vida interior dependem de toda a natureza humana”[30].

Dividir a natureza humana em “corpo, alma e espírito” e apresentar o corpo como a parte de “menos importância”, como faz Garlock, e parte a ser “suprimida” como faz Spencer é algo próximo demais do dualismo. Ninguém pode apresentar essas teorias ao nosso povo como se isso fosse “adventismo”, pois não é.

Conclusão
Garlock tem uma visão dualística/tricotômica do ser humano (espírito, alma/mente e corpo). Os adventistas não crêem nisso. Arbitrariamente, Garlock relaciona essa visão com 3 elementos da música (melodia, harmonia e ritmo) e ensina que devemos supervalorizar a melodia e desvalorizar o ritmo. Não há nada na Bíblia que apóie essa idéia.

Mas Bacchiocchi e outros (como Daniel Spencer) lançam mão da idéia de Garlock e a utilizam sem grandes alterações. E alguns adventistas não vêem problema algum e acham linda a teoria dualística/tricotômica de Garlock.

Faça a sua conclusão leitor.

Infelizmente, a discussão sobre música e adoração na igreja adventista ainda acontece na periferia intelectual e teológica. É uma discussão marginal na “terra-de-ninguém”, onde vale tudo: argumentação ilógica, teorias infundadas, heresias misturadas com verdades, citações de lunáticos e místicos em geral, etc. Me parece que só não vale uma coisa: usar as boas e conhecidas regras raciocínio e interpretação bíblica.


por Vanessa Meira e Vanedja Cândido Barbosa


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[1] Frank Garlock e Kurt Woetzel, Music in the Balance, p. 57.
[2] Existem vários autores que fazem essa relação sem fundamento. Procurando a fonte de tal informação encontrei o educador musical Edgar Willems, que é citado por alguns desses autores. No entanto, há uma diferença no conceito de Willems: a melodia afetaria o aspecto emocional, não o espiritual. O conceito de Willems é:
Ritmo - vida fisiológica (viver)
Melodia - vida afetiva (sentir)
Harmonia - vida mental (pensar)
[3] Samuele Bacchiocchi, O cristão e a música rock, 150.
[4] Você pode assistir uma palestra com esses conceitos de Garlock on-line aqui: http://www.youtube.com/watch?v=hSGx95YsZEk .
[5] Samuele Bacchiocchi, Imortalidade ou ressurreição, p.10.
[6] Samuele Bacchiocchi, O cristão e a música rock, 129.
[7] Notas do seminário “Symphony of Life”, de Frank Garlock, disponível em http://bayareabaptistchurch.org/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=118 e http://webspace.webring.com/people/ed/davidpwil/SOL3.html
[8] O cristão e a música rock, p. 151 e 152.
[9] Idem, p. 150.
[10] Ibid.
[11] Ibid.
[12] Idem, p. 151.
[13] Imortalidade ou ressurreição, p. 1, 21.
[14] Idem, p. 10.
[15] Ibid.
[16] Idem, p. 18.
[17] Idem, p. 18 e 19.
[18] Idem, p. 21.
[19] Idem, p. 22.
[20] Ellen White, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 296.
[21] Ellen White, Educação, p. 13.
[22] A questão é mais profunda e não abordaremos tudo aqui. Mas bastaria, por exemplo, citar Ellen White dizendo que “com a mente servimos ao Senhor” (Temperança, p. 14) para refutar de forma diferente essa escala de prioridades de Garlock. Para uma interessante visão adventista da “espiritualidade”: http://espiritualidade.numci.org/a-nova-espiritualidade-e-espiritualidade-adventista/
[23] Music in the Balance, p. 33.
[24] O cristão e a música rock, p. 49.
[25] Idem, p. 28.
[26] Idem, p. 49.
[27] Idem, p. 49.
[28] http://www.musicaeadoracao.com.br/livros/tensao/2_cap2.htm
[29] Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 239.
[30] Ibid.