terça-feira, 9 de março de 2010

Auschwitz e a responsabilidade dos cristãos - 3

Os cristãos fizeram tudo o que podiam?

Elie Wiesel escreveu:
“As vítimas pereceram não somente por causa dos assassinos, mas também por causa da apatia dos espectadores. Aqueles que pereceram foram vítimas do Nazismo e da sociedade omissa, embora em níveis diferentes. O que nos surpreendeu grandemente depois do tormento, depois da tempestade, não foi que tantos assassinos mataram tantas vítimas, mas que tão poucos se importaram conosco de qualquer modo”.[1]
Os cristãos fizeram tudo o que podiam? Todo mundo sabe a resposta. Eles não fizeram! Por que as igrejas não se opuseram energicamente aos nazistas desde o começo? Havia milhões de cristãos nesses países. Se eles quisessem, poderiam ter se oposto seriamente à “solução final” dos nazistas. Mas não houve demonstrações em massa nas ruas de Berlim, Munique ou Viena quando as primeiras leis anti-semitas foram aprovadas. Nenhuma coalizão cristã forte e popular surgiu para combater tal ideologia abertamente anti-cristã. E o poderoso Papado fez muito pouco.

Mobilizando-se para coisas secundárias

Alguns anos atrás vimos, numa França muito secularizada, um milhão de católicos na rua para defender as escolas católicas. Em Munique, quase o mesmo número se manifestou para protestar contra a decisão de remover o crucifixo de escolas públicas e hospitais. Crucifixos!

Sessenta anos atrás as igrejas tinham muito mais influência na sociedade européia do que agora. Elas tinham a capacidade de fazer muito mais. Negligenciaram fazer o que era necessário para salvar milhões de pessoas inocentes.

Era possível fazer mais? Sim, sabemos que era. Pois na Alemanha, quando os nazistas quiseram implementar seu programa de eutanásia para eliminar os assim chamados “deficientes mentais”, as igrejas reagiram – pois agora as vítimas não seriam apenas judeus. O programa foi parado pelo esforço unido de bispos católicos e líderes protestantes.[2]

Iniciativas isoladas e individuais

Apesar das tristes realidades detalhadas acima, não devemos esquecer aqueles cristãos que fizeram alguma coisa, aqueles que ajudaram. Milhões – jovens e velhos, homens e mulheres – lutaram contra a máquina de extermínio nazista. Sem eles, Auschwitz teria durado até que sua meta tivesse sido alcançada. Muitos cristãos recusaram na prática a ideologia racista prevalecente.

Não devemos nos esquecer dos líderes dos países que mobilizaram seu povo na guerra em oposição à perseguição anti-semita. Nechama Tec escreveu: “A lei que exigia que os judeus usassem a estrela amarela de Davi foi atacada com vigor. Sob pressão, o governo teve que voltar atrás”.[3] A Dinamarca fez o mesmo, e os nazistas “foram relutantes em tentar punir uma nação inteira”.[4] Na Polônia, “o silêncio da igreja oficial não impediu alguns clérigos de arriscar suas próprias vidas pelos judeus”.[5]

Muitos daqueles que decidiram proteger os judeus estavam convencidos de que essa era uma “obrigação cristã”.

CONTINUA...
Leia também a parte 1 e a parte 2
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[1] Elie Wiesel, Why Were There So Few?, em Carol Rittner and Sondra Myers, The Courage to Care (New York: New York University Press, 1986), p. 125. Um discurso de Wiesel sobre os perigos da indiferença diante de injustiças e atrocidades pode ser lido aqui.
[2] Irving Greenberg, The Righteous Rescuers, em Rittner e Myers, p. 4.
[3] Nechama Tec, When the Light Pierced the Darkness (Oxford and New York: oxford University Press, 1986), p. 147.
[4] Greenberg, p. 12.
[5] Tec, p. 147.

2 comentários:

  1. Ótima escolha de artigo.

    Gostei muito.

    Aproveito para indicar o filme "Amém", que conta a história de um oficial protestante nazista e um padre que se oporam e ajudaram a divulgar as barbaridades que foram feitas não apenas aos judeus, mas diversas minorias na Europa e o silêncios das igrejas protestantes e a católica.

    Um abraço.

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  2. Valeu a indicação.
    Tem um cara adventista que foi uma espécie de Schindler na época. salvou vários judeus. E viveu na obscuridade depois até que alguém resolveu contar a história de heroísmo dele.
    Virou livro.
    Vou procurar o nome e indicar tbm.

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