André Trocmé
As histórias extraordinárias do pastor André Trocmé e de John Weidner são boas ilustrações de cristãos que tiveram coragem para preocupar-se durante o holocausto. Trocmé, um clérigo protestante, abriu sua pequena cidade, Lê Chambon Sur Lignon, no Sul da França, para os judeus e os protegeu. Sua esposa Magda Trocmé escreveu:
"Meu marido voltou à vila e falou com o conselho da igreja, e eles disseram: 'Ok, prossiga'. Logo depois, eles estavam dispostos a ajudar. nem sempre concordavam cem por cento com tudo o que meu marido dizia, mas concordavam em geral com ele, e assim ajudavam."[1]
André e Magda Trocmé
John Weidner, um membro leigo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, organizou a rede de comunicações Holanda-Paris e salvou cerca de 800 judeus, 100 aviadores aliados e muitas outras pessoas que fugiam da tirania nazista.[2] Lembro-me de perguntar a John: "Por que você assumiu tal risco?" Sua resposta foi: "Como um cristão adventista, eu não poderia aceitar ver passivamente os valores que eu servia serem aniquilados".[3]
Em The Courage to Care, Weidner explica sua decisão:
"Eu me lembro de estar na estação ferroviária em Lyon, onde eu vi um grupo de mulheres e crianças judias que haviam sido presas e que estavam sendo deportadas para o leste. Uma mulher tinha um bebê em seus braços. O bebê começou a chorar e fez muito barulho na estação. O oficial da SS que estava no comando ordenou à mulher que fizesse o bebê parar de chorar, mas ela não conseguia fazer. O oficial tomou o bebê dos braços daquela mulher, esmagou o bebê no chão e prensou sua cabeça. Ouvimos o grito de dor daquela mãe. Foi algo terrível. E o tempo todo, os oficiais da SS ficaram em volta, rindo."
Este evento teve tanto impacto em Weidner, que ele tomou sua decisão: "Quando vi tais coisas acontecendo aos judeus, foi algo tão oposto ao meu conceito de vida, a tudo o que fui ensinado a acreditar, que eu senti que era meu dever em consciência ajudar a essas pessoas".[4]
Depois da guerra, Weidner não tentou tirar vantagem de ações passadas. Levou tempo antes que viesse um reconhecimento universal. Ele se descreveu como uma pessoa comum e acrescentou: "Eu só fiz o que tinha que fazer, o que minha consciência e ética me obrigaram a realizar".[5]
O que Tec escreveu sobre a Polônia pode ser aplicado a muitos outros países: "De fato, em nome da religião, alguns católicos protegeram os judeus, outros permaneceram indiferentes ao sofrimento deles e outros os denunciaram".[6] Uma declaração forte das igrejas oficiais a favor dos perseguidos teria salvo muitos mais dos nazistas. Quem pode argumentar contra essa realidade?
Sendo um cristão, também sou um membro da família cristã. aqueles que confessam a Cristo são meus irmãos e irmãs. Não posso excluir os pecadores da minha família. Não posso esquecer a maioria infiel e me identificar apenas com a minoria fiel.
O que aprendemos com Auschwitz? Aprendemos a ser construtores de pontes. Auschwitz não deveria ser uma desculpa para o Estado de Israel violar os direitos humanos, discriminar os não-judeus ou restringir a liberdade religiosa. Por outro lado, Auschwitz deveria impedir que os cristãos encontrassem novas roupas para encobrir um anti-semitismo latente. Deveria nos ensinar a ser proativos ao defender os direitos humanos. O que aconteceu ao povo judeu pode acontecer a outras minorias. Preconceitos contra outras minorias religiosas e étnicas ou assim chamadas seitas ainda estão ativos. Um ódio latente e constante ainda reside no fundo do coração humano contra aqueles que são diferentes.
Em resumo: Auschwitz deveria me ajudar a levar minhas crenças e valores cristãos a sério e a recusar a vender minha alma ao diabo por preconceito ou ideologia.
Gosto do modo como meu falecido amigo John Weidner concluiu seu testemunho em The Courage to Care:
"Durante nossas vidas, cada um de nós enfrenta uma escolha: pensar somente em si mesmo, ou servir, ser útil àqueles que estão em necessidade... Se eu tenho um herói, é Deus, que tem me ajudado a cumprir minha missão, a cumprir meus deveres, a fazer o que tenho que fazer. mas para mim mesmo, sou uma pessoa simples. Durante a guerra, fiz o que penso que todos deveriam ter feito".[7]
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[1] Magda Trocmé, Le Chambon, em Rittner, p. 103.
[2] A título de comparação, Oskar Schindler salvou cerca de 1200 judeus.
[3] John Graz, Réussir as vie, Vie et Santé (Dammarie-les-Lyz, France, 1992), p. 133.
[4] John Weidner, em Rittner, p. 59.
[5] Ibid, p. 64.
[6] Tec, p. 148.
[7] John Weidner, em Rittner, p. 65. Para um artigo completo sobre Weidner, leia Running From Death. Acesse também o site do John Henry Weidner Foundation
Gostei muito do texto Vanessa.
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