domingo, 18 de abril de 2010

A opção do acaso exige vários universos - 2

a primeira parte dessa refutação à "opção do acaso" pode ser lida aqui.

3) Terceiro, não há provas da existência de um conjunto de mundos à parte do próprio ajuste fino. Mas o ajuste fino é igualmente evidência do projetista cósmico. Na verdade, a hipótese do projetista cósmico é mais uma vez a melhor explicação porque temos evidências independentes de sua existência na forma de outros argumentos (eg.: os argumentos favoráveis á existência de Deus). Em outras palavras: se o ajuste fino não desempata a questão a favor do Design, outros argumentos independentes o fazem.

4) Quarto, a hipótese de diversos mundos enfrenta um grande desafio advindo da teoria da evolução biológica. Com o propósito de embasamento, Ludwig Boltzmann, físico do século 19, propôs um tipo de hipótese de diversos mundos com o objetivo de explicar por que não encontramos o universo em um estado de “morte quente” ou equilíbrio dinâmico interior.

Boltzmann trabalhou em cima da hipótese de que o universo todo realmente existe num estado de equilíbrio, mas que, com o passar do tempo, flutuações no nível de energia ocorrem aqui e ali por todo o universo, de modo que, por mero acaso, haverá regiões isoladas desequilibradas. Boltzmann referiu-se a essas regiões isoladas como “mundos”. Não deveríamos nos surpreender por ver nosso mundo em estado de desequilíbrio altamente improvável, afirmava ele, uma vez que, no conjunto de todos os mundos, deve existir, apenas por acaso, certos mundos em desequilíbrio e o nosso mundo é simplesmente um desses.

O problema com a ousada hipótese de diversos mundos de Boltzmann foi que, se o nosso mundo fosse simplesmente uma flutuação em um mar de energia difusa, então seria muito mais provável que devêssemos observar uma região muito menor de desequilíbrio do que a que se pode ver. Para que pudéssemos existir, uma flutuação menor – mesmo que produzisse nosso mundo instantaneamente por meio de um enorme incidente – é inestimavelmente mais provável do que o declínio progressivo na entropia que tivesse acontecido durante 15 bilhões de anos para produzir o mundo que vemos.

De fato, a hipótese de Boltzmann, caso tivesse sido adotada, nos forçaria a considerar o passado ilusório, no qual todas as coisas teriam a simples aparência de idade e as estrelas e planetas seriam ilusões, meros “retratos” de como eram, uma vez que esse tipo de mundo é imensamente mais provável, dado o estado de equilíbrio geral, do que o mundo com eventos genuínos, distantes no aspecto temporal e espacial.

Portanto, a hipótese de diversos mundos de Boltzmann foi rejeitada pela comunidade científica e o atual desequilíbrio é considerado simplesmente como resultado da condição inicial de baixa entropia misteriosamente obtida no início do universo.

Nesse momento, um problema paralelo se coloca sobre a hipótese de diversos mundos como explicação do ajuste fino. De acordo com a predominante teoria da evolução biológica, a vida inteligente como nós mesmos, se é que evolui, o fará no período mais próximo possível do final da vida do Sol. Quanto menor o tempo disponível para os mecanismos da mutação genética e da seleção natural funcionarem, menor a probabilidade de evolução de vida inteligente. Dada a complexidade do organismo humano, é muito mais provável que os seres humanos evoluam no final da vida do Sol do que em seu início.

Com efeito, John Barrow e Frank Tipler listam dez passos na evolução do Homo sapiens, cada um deles tão improvável que, antes de poder acontecer, o Sol teria deixado de existir como estrela e teria incinerado a terra (The anthropic cosmological principle. Oxford: Clarendon, 1986, p. 561-565). Consequentemente, se o nosso universo nada mais é que membro do conjunto de mundos, então, presumido para o bem do argumento que a idéia evolucionista predominante da complexidade biológica esteja correta, é muito mais provável que devêssemos observar um Sol bastante velho, em vez de relativamente jovem. Caso sejamos produtos da evolução biológica, deveríamos nos ver num mundo no qual evoluímos bem no fim da vida de nossa estrela (isso é análogo a ser muito mais provável que devêssemos existir numa região menor de desequilíbrio na hipótese de Boltzmann).

De fato, adotar a hipótese de diversos mundos para banir o ajuste fino também resulta em um tipo estranho de ilusionismo: é muito mais provável que todas as nossas estimativas sobre as idades astronômicas, geológica e biológica estejam erradas, que realmente existimos no período final da vida do sol e que a aparência de jovem da terra e do sol seja uma enorme ilusão (isto se compara mais á probabilidade de que toda evidência de idade avançada do nosso universo seja ilusória na hipótese de Boltzmann). Assim, a hipótese de diversos mundos não é mais bem-sucedida ao explicar o ajuste fino cósmico do que ao explicar o desequilíbrio cósmico.

Por essas quatro razões (leia aqui a primeira e a segunda), a hipótese de diversos mundos enfrenta um severo desafio como candidata a melhor explicação do ajuste fino cósmico observado. Portanto, parece ser plausível que o ajuste fino do universo não se deva nem à necessidade física e nem ao acaso. O resultado é que o ajuste fino se deve, portanto, ao desígnio, a não ser que se possa demonstrar que a hipótese do Design seja ainda menos plausível que suas concorrentes.

Conclusão
A hipótese do acaso só pode ser razoavelmente defendida pela postulação de um conjunto de mundos de um número infinito de universos aleatoriamente variados nos quais nosso universo aparece sozinho, por acaso. Mas tal hipótese é comprovadamente inferior à hipótese do Design porque (1) ela é menos simples, (2) não existe maneira conhecida de gerar um conjunto de mundos, (3) não existe evidência independente para a existência de um conjunto de mundos e (4) ela é incompatível com a teoria evolucionista biológica contemporânea. Portanto, o Design é a melhor explicação.

4 comentários:

  1. Olá Vanessinha... esses seus post me motivou a fazer algo semelhante no meu blog...

    http://www.estudokako.blogspot.com/

    Filosofia & Logica = Deus Existe.

    Por enquanto fiz 4 partes... mas ainda há mais coisas para por, acho que vai pelo menos 6 partes. Aquela do Seneca que falei está na 2.

    ResponderExcluir
  2. 3 posts campeões... em argumentos da ignorância e em mau uso do princípio lógico de Ockhan.

    Este princípio afirma que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à sua explicação. Assim temos de eliminar todas aquelas que seriam indiferentes ao que estamos explicando.

    Portanto, a aplicação da navalha de Ockhan visa apenas a eliminar o que é excedente à explicação e não ser indiscriminada e generalizadamente aplicada a qq coisa porque é a forma mais simples de se explicar.

    O mesmo vale para o princípio antrópico em sua versão forte ( o universo surgiu para se adaptar ao homem) e fraca (que o universo foi ajustado para surgir o homem). Ou seja o universo é consistente para que o ser humano exista. Mas será que é isso mesmo? Teria o universo um propósito? Dar propósito a algo é maquinação da mente humana, pois não conseguimos pensar em algo sem propósito, pois somos seres conscientes. Apenas aquilo que tem origem em processos conscientes é que tem propósito (ex o leão matar a zebra, seu propósito é comer). Mas qual o propósito de existir o leão e a zebra?

    Nenhum, pois sua existência não está condicionada a processos inteligentes, mas a meramente naturais. O mesmo é aplicado ao universo e às condições para haver vida.

    É claro que ninguém, até o momento, se deparou com universos paralelos sejam eles do tipo 1,2,3 ou 4, mas suas explicações estão baseadas em física quântica (múltiplos estados das partículas e suas sobreposições).

    Matematicamente demonstra-se que há estruturas em arbusto no universo, que representam que se divide em paralelas versões de si mesma. Isso, em tese, pode explicar a natureza de probabilidades dos resultados quânticos.

    Daí, dizer que isso tudo é complexo demais, aplicar o princípio de Ockhan e concluir que a resposta é um designer... sinto muito. É puro argumento da ignorância.

    Augusto Moreno

    ResponderExcluir
  3. Sobre a hipótese 4, há muitos caminhos para evolução atuar, que não necessariamente o que ocorreu aqui.

    O raciocínio se vale da hipótese de se chegar a um ser humano, como se isso estivesse no script da vida na Terra, exceto caso se pense antropicamente.

    Esta forma de raciocinar é completamente errada, simplesmente porque a vida aqui, ou em qualquer mundo ou universo estará condicionada ao que acontece com o respectivo local.

    Aqui, tivemos extinções em massa devido a fenômenos naturais. Se as coisas fossem diferentes, pode ser que ainda teriamos centopéias de 2 m, dinossauros vagando pela terra ou mega fauna mamífera correndo por ai.

    Outro ponto que é completamente furado é a probabilidade de haver um ser vivo qualquer. Como John Barrow e Frank Tipler calcularam a improbabilidade mencionada?

    não conhecemos o fenômeno para existir a vida e para seres evoluírem, no que se refere às suas reações químicas e qual o efeito de causas externas aos seres vivos neste processo.

    A afirmativa não possui qualquer fundamento, exceto se ambos dominam a química da vida e os processos bioquímicos da origem das espécies. será que, por "charminho", não contaram nada a ninguém?

    Resumindo, não dá para se calcular um fenômeno que sequer conhecemos.

    O universo não é algo estável com um ajuste perfeito. É um lugar mortal e caótico, com ínfimas regiões onde podemos dizer que há uma relativa paz, que pode terminar no próximo segundo.

    Nosso projetista é um péssimo engenheiro, pois largou um cinturão de asteróides entre Marte e Jupter (e pior,com uma tal família Batistina), o Cinturão de Kuiper nas fronteiras do Sistema Solar e a Nuvem de Oorth mais além. Os três são o nosso "calvário cósmico".

    Mais uma vez a entropia!!! Nem os "crias" de 5a usam mais esse argumento. Ela tem a ver com dispersão de energia por microestados. Uma distribuição mais desordenada de energia e de matéria corresponde a um número maior de microestados associados com a mesma energia total.

    Isso não tem nada a ver com
    o colapso do universo ou problemas com a biologia ou origem de espécies e da vida.

    Tranquilamente, há regiões de nosso universo que esta entropia decresce, é o que ocorre em sistemas abertos.

    Mas isso exige trabalho, que com o resfriamento do Universo começou a ocorrer, pela atuação da força nuclear forte. Daí a nucleossíntese e, na sequencia, átomos (força nuclear fraca), matéria (ligações químicas - força eletromagnética), Estrelas, planetas (força gravitacional), vida, etc.

    Assim, o buraco é bem mais em baixo... e o designer dispensável.

    Moreno

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir